Para conhecer as origens de Los Bravos, é preciso
voltar para um dia de 1965, quando em uma discoteca de Madri: “Jaima”,
se encontraram o grupo madrilenho, Los Sonor, e o maiorquino,
Mike & The Runaways.
O grupo nasceu da fusão das duas formações, do Sonor, o
guitarrista Antonio Martinez e o tecladista Manolo Fernandez, mais o
cantor grupo Runaways, Michael Volker Kogel, conhecido como Mike
Kogel, o baixista Miguel Vicens, além do baterista Paul Sanllehí.
Mike, depois de uma estada na Alemanha, desde novembro de 1964, havia retornado
a Mallorca em julho de 1965.
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1966 |
Esta nova formação manteve o nome Sonor, até Manolo Diaz, que
já tinha sido membro do Los Sonor, impressionado com a voz e
personalidade de Mike, falou deles ao produtor francês Alain Milhaud,
também diretor artístico da Discos Columbia, que concordou em
conhecê-los.
Os membros originais foram:
Michael Volker Kogel Sumaya "Mike Kogel" (Berlín, 25 de
abril de 1944): voz.
Antonio "Tony" Martínez Salas (Madrid, 3 de outubro de 1944 - Colmenar
Viejo, 19 de junho de 1990): guitarra elétrica.
Manuel "Manolo" Fernández Aparicio (Sevilla, 29 de setembro de 1942 -
Madrid, 20 de maio de 1968): teclados.
Miguel Vicens Danús (El Ferrol, La Coruña, 21 de junho de 1943): baixo
elétrico.
Pablo Sanllehí Gómez (Barcelona, 5 de novembro de 1943): batería.
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1966 |
Alain Milhaud foi assistir um concerto e imediatamente quis
contratá-los. Apesar de alguma relutância inicial o grupo acabou
aceitando. e Milhaud negociou um contrato com a própria Columbia. O
grupo contaria com músicas escritas pelo próprio Diaz.
Como Alain Milhaud não queria repetir experiências passadas com outros
grupos, ele os fez assinar um contrato no qual ele exercia poder
absoluto nas decisões do grupo, desde a atividade de gravação até
roupas, entrevistas e uso de tempo livre, nada tinha que ser deixado
para o livre arbítrio. Antes de poderem assinar tinham o problema de
ainda terem um contrato em vigor com a marca Philips, mas estes, ao
ouvirem falar da contratação de Mike e do abandono do grupo
instrumental, rescindiram o contrato.
Sobre a origem do nome do grupo existem várias teorias. Uma lenda
generalizada é que o apresentador Tomás Martín Blanco, em seu programa
de rádio "El Gran Musical", realizado em auditório, decidiu encontrar um
nome para eles por voto popular. Auditório gostou tanto que no final de sua
apresentação gritou: Bravo! Então eles decidiram se
chamar de Los Bravos.
Mas o nome já havia sido decidido com
antecedência, Manolo Diaz foi seu autor; Los Bravos soava e era
escrito da mesma maneira em diferentes idiomas.
A versão oficial foi que no final da transmissão do programa em 13 de
março de 1965 do Teatro Zarzuela, uma das fãs ganhou o concurso porque
foi a primeira que sugeriu o nome: Bravos. Mas na verdade já
estava decidido pela gravadora com antecedência, segundo José Ramón
Pardo (Historia del pop español - página 91), a gravadora já tinha esse
nome decidido muito antes, pois é uma palavra fácil de identificar tanto
na Espanha quanto no exterior.
A primeira música do grupo tinha, peculiarmente, um título muito
apropriado: "No sé mi nombre" (gravado em inglês com o título de
"I want a name").
De acordo com Pardo, Los Pasos entrou no estúdio para gravar seu
novo álbum, "La moto", que Díaz havia escrito para eles, e que
por acaso também estava prestes a gravar seu primeiro álbum solo,
produzido por Milhaud, que lhe pediu para impedir a edição da música com
Los Pasos antes do lançamento da versão de Los Bravos, já
que a legislação editorial permitia que um autor impedisse a primeira
publicação de uma música.
No final, a versão do Los Bravos conseguiu se impor nas paradas
de sucesso do POP espanhol.
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Los Bravos recebem o Disco de
Ouro por "Black is Black"
27 de novembro de 1966. |
Para completar um ano movimentado, eles lançaram seu primeiro álbum, o
homônimo "Los Bravos" (Columbia, 1966), com as músicas que
gravaram nas sessões do grupo em Londres e que continha a maioria dos
hits que haviam feito no ano de 65.
Seu maior sucesso veio em 1966, com a música “Black Is Black”,
que foi um sucesso internacional (alcançou o nº 2 na lista de vendas
do Reino Unido e o nº 4 nos Estados Unidos). Esta música foi versionada para o francês e interpretada por
Johnny Hallyday
com o nome de "Noir c'est noir" e com grande sucesso.
Quando "Black is Black" chegou, no verão (europeu) de 1966,
muitas pessoas acharam que era um novo single de Gene Pitney. A voz de
Mike Kogel se parecia tanto com Gene que era estranho ouvir os DJs
dizendo Los Bravos quando a música tocava.
“...por que eles não mencionaram o Pitney?” Deviam pensar os
ouvintes.
Passaram para a
história da música espanhola, tornando-se o primeiro grupo a vender mais
de um milhão de cópias e ganhar o primeiro Disco de Ouro da música
espanhola com "Black
is Black".
Outro sucesso internacional do grupo foi "I Don't Care"
(no Reino Unido, atingiu o nº 16 na lista de
vendas).
Em 1967 foram convidados a participar do “XXI Sanremo Festival”
com a música italiana "Uno come noi", mas não se classificaram
para a final.
Nesse ano, além de tentar ganhar festivais, eles também se dedicaram ao
cinema, e seu segundo álbum Los Chicos con las Chicas (Columbia,
1967) que foi planejado para ser a trilha sonora de seu primeiro filme
Los Chicos con las Chicas (Javier Aguirre, 1967) que foi filmado nos
estúdios dos irmãos Moro. Embora o filme não se destacasse devido à sua
qualidade cinematográfica, foi um blockbuster porque oferecia o que os
fãs do grupo queriam. O filme estreou em setembro e, embora tenha sido
bem sucedido na Espanha, não foi lançado internacionalmente, exceto no
México alguns anos depois.
Essa não seria a única incursão no mundo cinematográfico da banda, já
que no ano seguinte eles gravariam "¡Dame un poco de amooor...!”
(José María Forqué, 1968), filme de aventura que mesclava imagens reais
com imagens animadas, com sequestros, chineses e um malvado que queria
dominar o mundo.
Para Los Bravos, infelizmente, a emoção de se tornar estrelas de
cinema foi significativamente afetada pela morte de Manolo Fernández.
Em 1968 além do suicídio de Manolo Fernandez também teve o pedido de saída de Mike Kogel
para tentar uma carreira solo com um novo nome artístico: Mike Kennedy.
A morte de Manolo foi especialmente trágica, uma vez que foi motivada
pelo sentimento de culpa depois do falecimento de Lotty Rey, com quem
havia se casado meses antes, em um acidente de carro em que ele era o
motorista, e pior, voltando do casamento de outro integrante do grupo,
Miguel Vicens, e 21 dias após a morte de sua esposa ele cometeu suicídio
em 20 de maio de 1968. Tinha apenas 24 anos de idade.
O casal havia se conhecido em um show de variedades italiano, intitulado
"El show de Antoine". Quatro meses depois daquele encontro se
casaram em17 de março, em Talamanca del Jarama, na província de Madri.
Em princípio, a cerimônia seria secreta, mas acabou chegando ao publico
devido a enorme popularidade do grupo.
Seu empresário, o franco-suíço Alain Milhaud, lembra que Manolo ligou
logo após o acidente e disse: "...eu
matei Lo" (Lotty Beatriz Rey). Ela estava grávida
do primeiro filho do casal.
No dia do funeral, um amigo de Manolo o encontrou em casa coberto de
sangue, após uma tentativa de cortar os pulsos. Era o aviso de um
suicídio que seria consumado dias depois.
Em 20 de maio, ele se trancou
no apartamento, se cercou de fotos dela e se matou usando uma espingarda
para atirar no coração.
"... Estou completamente certo de que
Deus existe e que Ele me compreenderá e perdoará, porque o meu lugar é
estar com Lo, a mulher que sempre esperei, a mulher que amei com toda
minha alma, que perdi e sem a qual não posso viver..."
- Trecho da carta que Manolo deixou para seus pais.
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Final de 1967 -
Bastidores de um show |
1968 - Casamento de Miguel Vicens com Norma
Perriman, atrás:
Tony Martínez, Manolo Fernández, Mike Kennedy e Pablo
Sanllehí.
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1968 - Noticia
na Revista Semana |
Para substituir o organista, decidiu-se fazer uma montagem semelhante a
organizada para dar nome ao grupo. Um novo organista foi procurado e estreou com Los Bravos,
encapuzado. O premio para quem acertasse o nome
do novo organista era acompanhar Los Bravos em uma turnê. Segundo
Pardo, no dia da apresentação em Madri foi organizada uma perseguição de
carros:
"- A edição é tão rude e explora tão
descaradamente o trágico fim de Manolo que a rejeição é quase unânime",
disse o escritor.
Peter Shelley foi o tecladista escolhido para substituir Manolo, mas foi
demitido alguns meses depois e Jesus Glück contratado para substituí-lo.
Em 1969 eles lançaram o que seria seu quarto álbum, "Ilustrísimos
Bravos" (Columbia, 1969). Logo após seu lançamento, Mike Kogel
deixou oficialmente o grupo para tentar sucesso em carreira solo.
Outros sucessos da banda foram “Bring a Little Lovin” (do grupo
australiano Easy Beats, que dá título ao filme Dame umn poco
de amor, e o último hit nos EUA), "Los Chicos con las Chicas"
("Down", em sua gravação em inglês) e o já mencionado "La
moto" ("Baby Believe Me", em sua gravação em inglês). O
sucesso mundial brilhante e efêmero da banda inclui a gravação de um
jingle para um anúncio da Coca-Cola nos EUA.
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Apresentação
com Mike Kogel - s/data |
Apresentação
com Robert Wright - 1969 |
Quanto a Michael Kogel, ele foi substituído por Robert Wright (Bob) e
meses depois por Anthony Anderson, irmão de Jon Anderson do grupo Yes.
A banda continuou a gravar durante vários meses e lançou pelo menos
outro disco, mas a morte de Manolo continuava afetando o grupo, que se dissolveu em
1971.
Eles retornariam à carga com novo vocalista: Henry Seür. Com ele,
gravaram mais um single, sendo a mais notável "Ma Marimba/Down"
(Columbia, 1974), cuja música principal é vibrante. Mas
as vendas não foram muito altas e o grupo decidiu se dissolver. Mas essa
dissolução teve mais um pequeno capítulo. Pouco depois eles tentam
relançar o grupo com o single “Never, Never, Never/Hey Mama"
(Columbia, 1976) sob o nome de Mike Kennedy e Los Bravos, mas não
serviu para nada mais do que certificar a morte do grupo.
Los Bravos representaram uma exceção, poucos artistas espanhóis
tiveram sucesso nas paradas dos EUA. Até sua chegada, apenas
Xavier Cugat havia
tido sucesso na América.
Toni Martínez, guitarrista do Los Bravos, morreu em um acidente
de motocicleta em junho de 1990 aos 46 anos de idade.
Los Bravos se encontraram várias vezes para turnês e gravações de
discos, desde 1975, e em duas ocasiões teve a presença de Mike. A
primeira foi uma reunião em 2000 na Santanyí (Mallorca) após o
lançamento do livro de Guzman Alonso "Los Bravos memórias de uma
lenda" e conta o autor:
“...este encontro único foi levado em
Mallorca em agosto de 2000, em 27 de agosto os velhos Los Bravos
improvisaram uma ação inédita: Pablo Sanllehí, Miguel Vicens, José
Romero, Toni Obrador, Joan Bibiloni, Mike Kögel, Robert Wright, Anthony
Anderson, tocaram para seus amigos e aos que chegaram ao terraço do café
Santanyí, de propriedade de Miguel Vicens. Alguns deles nunca tinham
tocado juntos e outros tinham mais de vinte anos sem tocar. Foi uma grande
festa " - Guzman Alonso.
O segundo encontro, em 2004, contou também com a presença de Mike,
juntamente com Miguel Vicens, Pablo Sanllehí, Fernando Blanco e
Francisco Beltrán.
A partir de 2010, Los Bravos se apresentam com a seguinte
formação: Ari Seur, Toni Díaz, Miguel Vicens e Pablo Sanllehi.
Em 2015, o grupo gravou uma versão de "Black is Black" com
arranjos mais efusivos do que nos originais de 60, agradando tanto
aqueles que ouviram a versão original, como as novas gerações.
Em 2019, "Bring a Little Lovin" de Los Bravos apareceu na trilha
sonora e primeiro teaser trailer de Once
Upon a Time in Hollywood, um filme de crime e humor
negra, escrito e dirigido por Quentin
Tarantino.
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